quinta-feira, 28 de maio de 2015

O deserto da Cantareira - num futuro não tão distante...


                O cenário do conto "Tudo termina aqui!" do livro Êxodo - A Saga do Ouro Azul, é o sistema de abastecimento de água conhecido como Sistema Cantareira.
No conto, em 2065 o cenário é de total devastação, um imenso deserto sem perspectiva nenhuma de vida.


Tudo termina aqui! – foi o último pensamento de Eliseu pouco antes de exausto perder a consciência e ser achado pelos “Filhos da Seca” tombado no coração do imenso deserto paulista, sobre a terra ressequida, mordendo os lábios sujos da areia cálida que um dia já foi coberta pelas águas da vigorosa represa da Serra da Cantareira, agora nada mais que o vale da sombra da morte...  (trecho do livro)


No video abaixo publicado pela  Folha de São Paulo apresenta o sistema Cantareira visto do alto,  informando sua origem, os rios e represas que abastecem a capital. 

 


A guerra o sofrimento, o exílio, o desejo intransigente de viver mais sum dia, tornavam seus pés mais resistentes ao cansaço. Sobre a areia enrijecida, ele levantava e de novo se arrastava, e depois se levantava, e com uma dor subversiva na alma, prosseguia incessantemente, enquanto o próprio vento acima de sua cabeça soprava a morte que admirava a garra de um homem sem forças sobre a terra deserta de um mundo abandonado.  (trecho do livro)


Para entender como esse cenário pode ser real, eu trouxe uma reportagem do jornal Folha de São Paulo, que tem uma página muito interessante sobre o assunto Crise da água


O PASTO E A FLORESTA

No extremo oposto da Grande São Paulo, a fazenda Cravorana, em Piracaia (a 80 km da capital paulista), é uma das muitas que cercam a represa Jacareí-Jaguari. O gado pisoteia as encostas e simboliza a destruição das matas, o outro lado da mais importante crise hídrica dos últimos cem anos em São Paulo. Mas nesta propriedade as coisas começaram a mudar. Em vez de apenas bois, esse pedaço do manancial de 1.230 km² (equivalente a 80% da área da cidade de São Paulo) entre as cidades de Bragança Paulista, Vargem, Piracaia e Joanópolis volta a abrigar árvores para que a floresta produza água.
O reservatório, que opera desde 1982, é o maior do sistema Cantareira, que tem mais quatro represas. Só dele saíam 67% da água usada pela Sabesp (companhia estatal paulista de água e saneamento) para abastecer quase 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo.


O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), sediado em Nazaré Paulista (SP), estuda há mais de 30 anos o ambiente natural de regiões como a do Cantareira. De acordo com levantamento feito pela ONG, 49% do entorno da represa foram ocupados por pastos. Outros 38% ainda são florestados, e em 8% a mata está em recomposição. Os restantes 5% estão tomados por eucaliptos.
Se a mata ainda estivesse lá, é possível que a situação do Cantareira não se tivesse agravado tanto como nos últimos dois anos. O solo florestado funciona como uma esponja e favorece a lenta infiltração da água para o lençol freático, que ajuda a encher as represas. Sem a cobertura das árvores, a água escorre mais rapidamente pelo terreno –causando erosão– e provoca enchentes mais à frente.
A ocupação do solo em áreas de mananciais é um grave problema a ser enfrentado nas próximas décadas. Mais que obras de engenharia para buscar água cada vez mais longe de onde é consumida, a recuperação ambiental, a conservação dos mananciais e a redução do desperdício formam o tripé capaz de impedir que a água acabe em áreas muito populosas.

O descaso com o serviço ecológico prestado pelas matas levou à situação que também inferniza o cotidiano de mais de 5 milhões de pessoas nas regiões de Campinas e de Piracicaba, que dependem da mesma bacia hidrográfica –conhecida como PCJ (rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí)– que alimenta o sistema Cantareira.
A situação de estresse hídrico que a Grande São Paulo vive é dramática. Os sistemas de armazenamento da Sabesp produzem cerca de 6 milhões de metros cúbicos de água por dia, mas quase metade disso vem de bacias hidrográficas que ficam fora da zona metropolitana. E o cenário continuará a se agravar com o constante crescimento da metrópole.


A história da fazenda Cravorana ilustra bem a situação do Cantareira e o que pode ser feito para remediá-la. Há quase um ano, administradores da propriedade e pesquisadores do IPÊ começaram a “semeadura da água”. O projeto tem colhido bons resultados e será reproduzido em várias áreas do Cantareira.

Os animais agora pastam por alguns dias em um determinado piquete. Depois passam a pastar em outro. Na parcela que ficou descansando uns dias (o tempo varia com o clima e o ritmo do rebanho), o capim está visivelmente mais verde, e o solo, menos endurecido. Quando chove, a água se infiltra, e só uma pequena parte escorre barranco abaixo. A erosão retrocedeu quase inteiramente.
Pequenas áreas de pastos (piquetes) mais ou menos regulares foram demarcadas e cercadas em um dos morros da fazenda, que tem pastagens degradadas, com o capim já rareado e o solo bastante compactado pelo pisoteio do gado. As chuvas lavavam tudo, deixando erosão e prejuízos em sua esteira.
“Estamos fazendo projetos semelhantes em várias propriedades da região. Nossa intenção, além de deixar que mais água se infiltre no solo, é recuperar matas ao lado de nascentes e de riachos”, afirma Alexandre Uezu, biólogo da ONG IPÊ e coordenador do projeto, que já tem um ano.
Ele diz que, se todas as encostas do sistema Cantareira estivessem preservadas, a crise hídrica atual seria menos grave, ou nem existiria. “Com os lençóis freáticos armazenando água sempre, as represas seriam abastecidas de forma mais perene, e não só por meio de enxurradas”, explica.
A secretaria estadual do Meio Ambiente aprovou em 2009 projetos piloto de pagamento por serviços ambientais a 13 propriedades nos municípios de Joanópolis e Nazaré Paulista, como remuneração pela produção de água graças à manutenção de áreas florestadas. Sua escala reduzida não representa ainda uma contribuição de peso para as dificuldades da bacia PCJ, mas se trata de um passo modesto na direção correta.
No âmbito federal, a Agência Nacional de Águas (ANA) criou o Programa Produtor de Água (PPA), que destinará R$ 5,6 milhões para financiar projetos de proteção de mananciais e para pagamento de serviços ambientais.

Como podemos ver, a situação do abastecimento de água no país está tão crítica quanto nos informam.

O livro Êxodo - A Saga do Ouro Azul, pode ser até uma distopia apocalíptica, por enquanto... 



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